Dienstag, September 21

A Janela

Finalmente havia mudado para o apartamento novo. O preço foi o principal motivo da compra, mal sabia eu o erro que havia cometido. Mas como podia imaginar que um prédio de pouco mais de 30 anos guardaria tantos segredos?
Nos primeiros dias tudo é estranho, para não dizer assustador. Faz parte dos nossos mecanismos primitivos de defesa. As luzes são fracas, as cores estão mortas, as sombras agudas e os sons sombrios. Tudo é motivo para suspeita.
Morar sozinho em um apartamento tão grande também não ajuda. O resto da família se mudará para cá somente em quatro meses, ou talvez mais. Isso só aumenta a desconfiança e o receio, não existe ninguém para rir comigo de tais bobagens.
Essas sensações passam logo. Bastam apenas alguns dias, poucas semanas para se acostumar. E então se torna rotina, o ambiente fica caloroso e poderia ser habitado pela alegria. Mas algo está errado, as noites continuam frias e sombrias, será que não me adaptarei as sombras da noite, a seus ruídos?
O pior é o vento contra a janela. Nem as músicas que ouço para facilitar a chegada do sono conseguem abafá-lo. Não é constante, é inesperado, de modo que apesar de saber que irá bater, não sei quando ou porque, o que faz ser ainda pior. O uivo do vento passando pelas frestas da janela causa calafrios, mas o que mais assusta são mesmo as batidas contra o vidro. Por que se estou no sétimo andar? Ou melhor, por que apenas no meu quarto?
Tenho a impressão de que as batidas são de alguém querendo entrar. Isso não faz sentido, como alguém chegaria a essa altura? Nos outros quartos não é assim, foi tão fácil de adormecer neles. Mas não tenho escolha, algo me faz insistir em continuar nele, este é meu quarto e preciso acostumar-me a ele, o problema é que nele a inquietação nunca passa, estou sempre alerta.
Quando pego no sono, a situação não melhora. Tenho sonhos tristes, terríveis. Sonhos de morte e dor, de traição e vingança, mas por que sou eu o alvo, não sei responder. Desde que ouvi os boatos sobre os primeiros moradores, meu estado piorou. Mas não quero acreditar nessas histórias.
Aconteceu há alguns anos. Uma história de amor mal-resolvida, uma briga apaixonada, uma janela aberta a noite, uma morte inesperada. Dizem que a garota suicidou-se, mas outros acreditam que ela foi empurrada. Eu acho que não passam de coincidências, mas agora entendo o preço do apartamento. Preciso achar um novo lugar para morar.
Não quero acreditar nessas bobagens. Continuo a dormir no meu quarto. Por que eu fico arrepiado? O que eu quero provar? Fecho a janela o melhor que posso. O assobio do vento parece com uivos de agonia. Estarei imaginando coisas, ou aquela sombra atrás da cortina parece com uma pessoa? O vidro continua a vibrar.
Adormeço, mas nem nos meus sonhos encontro paz. Sonho com uma jovem pálida, cabelos desgrenhados. É tudo muito rápido, distorcido. Não vejo seu rosto, mas sei que está cheio de ódio. Ela escala até meu quarto, a janela é a única coisa que me protege de seus braços gélidos. Ela bate no vidro. A lua cheia as suas costas enche seu rosto de sombras. Vejo seus olhos negros brilhando, sua voz implorando de maneira hipnotizantes "deixe-me voltar, meu amor"... Mas aquele brilho não era amor.Mais uma vez o vidro é atingido, o barulho terrível me acorda. Estou de pé em frente a ela, as cortinas abertas, vejo apenas uma sombra lá fora. Apesar do medo, a força é irresistível. Sei que é meu fim, abro a janela.

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